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North American Open
Las Vegas – Estados Unidos
26 a 29 de dezembro de 2013
Por MN David Borensztajn
Mais uma vez fui jogar nos Estados Unidos, dessa vez no Hotel Bally’s em Las Vegas,cidade onde havia jogado no mês de junho o National Open, do qual já havia participado diversas vezes na década de 90.
Confesso que jamais vi tamanha desorganização e descumprimento das regras da FIDE!
Para começar o emparceiramento era publicado num andar acima do salão de jogos, que, diga-se de passagem era enorme e serve como salão de grandes conferências, o que obrigava os jogadores a descerem de elevador para o local dos jogos.Nada demais se não houvesse mais de 500 jogadores e 6 elevadores , o que causava enorme congestionamento na hora de se descer para achar a sua mesa, arrumar o material e começar a jogar. As partidas não começavam todas na mesma hora por causa disso, o que colaborou com a bagunça.
As rodadas, marcadas para os esdrúxulos horários de 12 e 17 horas jamais começaram na hora e em duas rodadas houve mudança no emparceiramento de algumas seções assim que se iniciaram as partidas! Os tabuleiros digitais, que serviam para as primeiras mesas não funcionavam o tempo todo e quem quisesse acompanhar os líderes do Open teve problema em ver o andamento, já que havia uma barreira separando os espectadores.
Contrariando as regras da FIDE vários jogadores usaram planilhas eletrônicas e nas seções em que não contavam rating foi até permitido o uso de fones de ouvido, o que, convenhamos, é um absurdo total.
Os relógios eram colocados aleatoriamente, sem estarem todos virados para uma fácil visualização dos árbitros que, na verdade, eram chamados de “directors” (diretores) e havia muito poucos para tanta gente.
O tempo de partida, ao contrário do que estamos acostumados, era de 2 horas para 40 lances + meia hora para o final, com atraso de 10 segundos para cada lance (delay), ou seja, o relógio só começava a marcar após 10 segundos, e não havia, portanto, incremento ou aumento do tempo de reflexão.
O desrespeito foi tamanho que na última rodada meu adversário se recusou a dar o seu nome e não anotou o meu na planilha (que, segundo as regras da FIDE não pertence ao jogador, mas sim à direção do torneio). Insisti e lhe entreguei a planilha para que escrevesse o nome. O sujeito fez 3 tracinhos e disse-me que era assim que assinava. Eu retruquei e disse que não queria a assinatura, mas sim o nome que seria colocado na súmula. Fui a um dos árbitros a resposta que obtive foi a de que “não havia problema algum no caso“…Tive, então, de fazer um percurso até o emparceiramento para saber com quem jogava. Além disso, o meu adversário teimava em colocar as peças entre duas casas, obrigando-me a arrumar tudo a praticamente cada lance.E como se não bastasse a molecagem ele não anotava os lances 2 a 2, como manda a regra. Reclamei novamente a um dos árbitros o que de certa forma obrigou o sujeito a anotar. Mas a partida demorou mais de 60 lances e a súmula se esgotou.Peguei outra mas ele não, e continuou a fazer rabiscos na mesma súmula e, novamente, o árbitro disse que “não era nada demais”…
Os jogadores que esperavam o adversário, que afinal não comparecia, tinham de esperar uma hora, como é quase usual em torneios, MAS quem não tinha relógio teve de esperar duas horas para vencer por default (WO).A organização (?) não fornecia material e quem não o tivesse que se desse ao trabalho de comprar peças, tabuleiro e relógio na excelente loja que ficava no terceiro andar, justamente onde se publicava o emparceiramento. Coincidência? Devo dizer que foi a melhor loja de torneios que já vi com livros usados, novos, últimos lançamentos, peças maravilhosas, souvenirs, camisetas e muitas outras coisas.
Não houve tampouco divulgação pelo Chess Results e os resultados não foram enviados à FIDE para a publicação do novo rating da lista de janeiro de 2014, muito embora o torneio tivesse terminado no dia 29 de dezembro. Talvez as festividades do ano novo tenham atrapalhado, não sei.
Outros eventos aconteceram também, como palestras de Irina Krush e um torneio de blitz.
Após o torneio indaguei do organizador (?) a razão de tudo aquilo e a resposta foi a de que a Federação Norte-americana não aceita certas regras da FIDE em razão de não apoiarem o atual presidente e ponto final.
Acho interessante, no entanto, a modalidade de se emparceirar os jogadores por seções de rating, e enquanto acontecia o Open propriamente dito, com jogadores como Yermolinsky, Gurevich, Ehlvest, Shankland (a nova revelação americana) e o vencedor Kacheishvili, havia seções sub 2300 (que joguei),sub 2100, etc.Cada seção teve seu respectivo premio (o da seção sub 2300 levou mais de 6 mil dólares em premio, mais do que o vencedor do Open que teve de dividir o premio com outros que se classificaram em primeiro lugar (houve o critério de desempate para a entrega da taça).
Ganhei uns pontinhos de rating e terminei em classificação melhor do que a que havia iniciado a competição, muito embora não tenha jogado bem, o que faz parte das minhas atuações nos últimos tempos, desde que voltei a jogar há cerca de 4 anos, após ficar afastado por longos anos das competições.
Apesar de tudo isso, valeu a experiência de jogar mais uma vez no exterior, reencontrando amigos, conhecendo outros.Falando nisso reencontrei um jogador com quem havia jogado para passar o tempo num navio de cruzeiro há 3 anos atrás e foi bom ver que o xadrez proporciona essas coisas, fazendo jus ao lema Gens una Sumus.Muito jogadores vieram de várias partes do mundo, inclusive outro brasileiro, Daniel Farah de São Paulo que, igualmente,teve desempenho discreto.
Para quem costuma criticar os torneios realizados no Brasil fica o relato de quem já jogou em vários eventos internacionais em várias partes do mundo, mostrando que apesar de um premio altíssimo, cerca de 120 mil dólares no total, com uma inscrição de mais de 200 dólares (com desconto para seniors, o que começou a ser empregado por aqui), a desorganização pode imperar, mesmo que no chamado primeiro mundo.